Sabe-se que o solo é um sistema aberto e complexo com permanente troca de matéria e energia com o meio em função das inúmeras relações entre os subsistemas que o compõem (vegetais, organismos e matéria mineral). Assim, os vegetais possuem papel importante na adição de compostos orgânicos ao solo, sintetizados no processo de fotossíntese, utilizando energia solar, gás carbônico do ar água e nutrientes do solo. Já os organismos, principalmente os microrganismo heterotróficos, obtêm energia para seu desenvolvimento através da decomposição de resíduos vegetais e da matéria orgânica do solo, liberando gás carbônico para a atmosfera, nutrientes, além de inúmeros compostos orgânicos secundários oriundos do metabolismo microbiano, as quais, consequentemente, passam a compor a matéria orgânica do solo.

Dessa forma a matéria orgânica do solo (MOS) pode ser considerada um indicador fundamental na qualidade do solo, sendo bastante sensíveis as alterações nos sistemas de manejo. Toda a variedade de substâncias orgânicas do solo pode ser dividida em dois grupos: as matérias orgânicas de natureza individual e as substancias húmicas. O primeiro grupo é composto por restos orgânicos, caracterizando os produtos de sua decomposição ou os produtos da atividade vital da população viva, ou seja, constituem nos solos minerais aproximadamente 10-15% da reserva total de matéria orgânica. Enquanto que o segundo grupo compreende a porção principal da parte orgânica do solo, 85-95% da reserva total do húmus.

Essas substâncias húmicas têm relação com as propriedades físico-química dos solos e interação com metais (imobilização) e compostos orgânicos. Possuem grande capacidade de reter água no solo, através da formação de agregados. Com a propriedade coloidal dessas substâncias, a agregação das moléculas pelas ligações covalentes com o hidrogênio, forma estruturas esponjosas com grandes espaços vazios, permitindo reter altas quantidades de água no solo, liberando lentamente para a planta.

As substâncias húmicas são fracionadas em ácidos fúlvicos (solúveis em pH ácido ou alcalino), ácidos húmicos (solúveis em pH alcalino) e humina (insolúvel em qualquer pH). De acordo com os estudos, considera-se que em torno de 80% do carbono orgânico do solo está contido nas substâncias húmicas, principalmente na humina. Além disso, possuem capacidade de interagir com argilas e alterar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, exercendo papel importante na fertilidade e estrutura do solo.

Através de experiências a campo é possível observar os benefícios do uso de ácidos húmicos na agricultura, pois possibilita aumentar a absorção de nutrientes e melhorar a estrutura do solo refletindo diretamente na produção, rendimento e qualidade das culturas. Também proporcionam a disponibilização do fósforo adsorvido na fração argila ou complexado de íons, indisponíveis para a maioria dos vegetais. No caso do íon complexado cálcio, em que se forma o precipitado fosfato cálcico, os ácidos húmicos complexam (sequestram) o cálcio solúvel e protegem os fosfatos da interação cálcio fosfato, na adsorção do ânion fosfato, deixando-o disponível apara a absorção pelas plantas (FILHO et al., 2002). Conforme ralatos de Traina et al. (1986), citado por Fontana et al.(2008) constatou-se que as substâncias húmicas da matéria orgânica são capazes de solubilizar fosfatos de ferro e alumínio, reduzindo a precipitação de fosfatos com íons Fe e Al e diminuir a adsorção do fósforo por oxidróxidos de ferro e alumino. Esses elementos podem adsorver as substâncias húmicas com grande energia e competirem com o fosfato pelos mesmos sítios de absorção.

Atualmente, no mercado existem inúmeros produtos capazes de fornecer ácidos húmicos e fúlvicos para o solo e as culturas. Dentre eles, destaca-se o fertilizante Organic Bloom, fonte de fósforo orgânico e aminoácidos, que possui em sua composição substâncias húmicas que auxiliam no processo de absorção de nutrientes pelas plantas, além possibilitarem uma melhoria na estruturação do solo.

 

*Fernanda Mugnol- Eng. Agrônoma – CREA RS 178798. Pós graduanda em MBE Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental

 

Referências bibliográficas

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Dobbss, Leonardo Barros et al. Caracterização química e espectroscópica de ácidos húmicos e fúlvicos isolados da camada superficial de latossolos brasileirosRev. Bras. Ciênc. Solo, Fev 2009, vol.33, no.1, p.51-63.

Filho, A.V.S; Ishikawa, M. V. S. Importância das Substâncias Húmicas para a Agricultura, Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba, Anais- 2002

Fontana et al. Fósforo remanescente e correlação com as substâncias húmicas em um latossolo vermelho sob diferentes sucessões de cultura em plantio direto. Rev Bras. Agrociência, Pelotas, v.14, n.1, p.161-166, jan-mar, 2008

Lauana Lopes dos Santos et al. Partição de substâncias húmicas em solos brasileiros. Rev. Bras. Ciência do. Solo, 37:955-968, 2013

Lovato, T. et al. Adição de carbono e nitrogênio e sua relação com os estoques no solo e com o rendimento do milho em sistemas de manejoRev. Bras. Ciênc. Solo, Fev 2004, vol.28, no.1, p.175-187.

Rosa, Carla Machado da et al. Conteúdo de carbono orgânico em planossolo háplico sob sistemas de manejo do arroz irrigadoRev. Bras. Ciênc. Solo, Out 2011, vol.35, no.5, p.1769-1776. ISSN 0100-0683

Silva et al. Crescimento da parte aérea e do sistema radicular do milho cultivado em solução nutritiva adicionada de substancias húmicas. Ver. Bras. de AGROCIÊNCIA, v.5 nº2, 101 -110.  Mai-ago,1999.

Organic Bloom: influência de substâncias húmicas na matéria orgânica*

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